A discussão acerca das diferenças entre ciência (episteme, em grego; scientia, em latim) e tecnologia (techne + logos, em grego) é muito antiga e remonta aos gregos. Platão e seu discípulo Aristóteles foram os primeiros a estabelecer as bases do que nós hoje chamamos de conhecimento científico. Mas, muito antes deles, os gregos já estavam cientes dos limites, poderes e consequências nem sempre benéficas trazidas pela técnica, expresso nos mitos de Ícaro (com seu artefato de voar o mais alto possível) e Prometeu (roubando o fogo dos deuses e dando-o aos homens)... em ambos os casos explicita-se a "vingança" dos deuses contra a soberba dos homens, de tudo querer conhecer... na falta de um discurso racional consistente, o mito era uma boa forma de instruir e educar o povo inculto, mostrando que as ações dos homens mudando a natureza teem consequencias.
A técnica é neutra em si, não sendo boa, nem má! O bom/mau uso dela depende do homem... esta é a grande contribuição de Sócrates/Platão, quando denuncia o mau uso da técnica da retórica/oratória pelos políticos da época para enganar o povo (só naquela época é que acontecia isto, né?). Mas, como saber se algo é bom ou mau? A fim de estabelecer um critério universal e não subjetivo, Platão lança então as bases do conhecimento científico, aquele que seria verdadeiro sempre. Coloca-o no mundo inteligível, das Idéias. Aristóteles busca um caminho empírico, cria a lógica e a partir de conhecimentos básicos, auto-evidentes (axiomas, postulados), que fazem parte do senso comum ou são obtidos por indução, e usando a lógica, dedutivamente, lança as bases da ciência empírica, experimental.
Com o Renascimento "redescobrimos" os gregos e o homem se encanta novamente com a Natureza, cujas leis ocultas cabe ao homem desvendar. Na Idade Moderna com Descartes, Newton, Laplace e tantos outros, a Ciência atinge seu ápice; a partir do final do Séc. XVIII, a Revolução Industrial será a locomotiva da técnica, logo auxiliada pela ciência no Séc. XIX. A Termodinâmica é um bom exemplo de como isto aconteceu: inicialmente, um problema de máquinas térmicas, e hoje se tornou uma ciência sofisticada e bastante teórica. No Séc. XX, o desenvolvimento da técnica foi apoiado pela ciência em quase todos os passos... áreas do conhecimento humano ainda muito baseadas na técnica, tais como medicina, agricultura e psicologia, ou baseadas em pressupostos meramente teóricos, como a Economia, Sociologia etc, vão em busca da ciência para suportar seus desenvolvimentos.
Hoje, quando discutimos os prós e contras da clonagem, do uso dos combustíveis fósseis, do cultivo de terras agricultáveis para produção de biocombustíveis etc, assuntos nos quais técnica e ciência estão intimamente vinculados, esquecemos de separar uma coisa da outra: ciência é conhecimento; técnica é utilitarismo; ambas são neutras e o uso é ditado pela ÉTICA que predomina na sociedade. No final, então, caímos no problema ético. Mas, como ter uma ética universal, sem ser subjetiva? O que é o bem ou a verdade? Daí voltamos ao problema inicial dos gregos... há várias propostas de resposta a esta pergunta ao longo do tempo... as mais atuais são as que continuam a se apoiar em Platão e em Aristóteles!
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